A assimetria de informações é um elemento crucial na análise de processos deliberativos, pois afeta diretamente a capacidade de tomada de decisões justas. O artigo “Assimetria informacional, poder e sistemas deliberativos: uma análise de conflitos ambientais em Minas Gerais”, escrito por Filipe Mendes Motta e Ricardo Fabrino Mendonça, ambos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), aborda essa questão e sua relação com o poder dos atores envolvidos em conflitos ambientais, voltando-se às atividades de mineração no estado de Minas Gerais.
A assimetria informacional pode ser definida como uma situação na qual uma das partes envolvidas em uma negociação possui mais informações do que a outra. Isso cria um desequilíbrio de poder e pode levar a resultados adversos ou desvantajosos para a parte que possui menos informações.
Utilizando uma abordagem interpretativa, os pesquisadores conduziram uma análise detalhada das assimetrias informacionais presentes nos conflitos ambientais relacionados à mineração. Para isso, foi feito um acompanhamento de arenas de participação institucionalizadas e do ativismo de atores da sociedade civil. Os autores realizaram, ainda, 45 entrevistas com membros da sociedade civil afetados pela mineração e funcionários de empresas mineradoras, entre outros envolvidos.
O resultado da análise aponta para uma série de questões críticas. Entre elas, os pesquisadores destacam a centralização de informações, que cria um desequilíbrio significativo de poder, a omissão e dispersão de informações, que prejudica a participação da sociedade civil e o uso da linguagem tecnocientífica, que dificulta o entendimento dos cidadãos.
Por fim, os autores sugerem formas de criar melhores condições para a participação da população nas discussões em torno da mineração em Minas Gerais. Isso inclui a necessidade de promover maior transparência na produção e divulgação de informações, bem como o uso de linguagem acessível para facilitar a participação da sociedade civil. Além disso, eles enfatizam a importância de repensar as estruturas de participação pública para garantir um processo deliberativo mais justo e equitativo.
Sobre os autores
Filipe Mendes Motta é doutor em Ciências Políticas pela UFMG. Fez bacharel em Comunicação Social e foi bolsista de curta duração do DAAD no Institute for Media and Communication Studies da Universidade de Mannheim, na Alemanha. Atualmente, reside como pós-doutorando no Programa de Pós-Graduação em Ciências Políticas, em pesquisa sobre assembleia de cidadãos sobre edição genômica, também na UFMG.
Ricardo Fabrino Mendonça é professor do Departamento de Ciências Políticas e do Programa de Pós-Graduação em Ciências Políticas da UFMG. Dedica-se às áreas de Teoria Democrática, Teorias da Justiça, Conflitos Sociais e Comunicação & Política, tendo publicações em importantes periódicos nacionais e internacionais, como Political Studies, Policy & Society, Opinião Pública, Análise Social, Varia História e Revista de Ciencia Politica, de Santiago. Em 2012, recebeu o Harrison Prize da Political Studies Association.
FICHA TÉCNICA
Título: Assimetria informacional, poder e sistemas deliberativos: uma análise de conflitos ambientais em Minas Gerais
Autores: Filipe Mendes Motta e Ricardo Fabrino Mendonça
Ano de lançamento: 2023