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Ciência política transparente: propostas para fortalecer a pesquisa qualitativa no Brasil



No artigo A estrada dos tijolos amarelos: Desafios e sugestões para produzir pesquisas qualitativas mais transparentes, as autoras Amanda Domingos (Universität Flensburg – Alemanha), Virginia Rocha da Silva (Instituto Universitário Europeu) e Palloma Marciano (Gerente Geral de Informações Estratégicas no Governo do Estado de Pernambuco), abordam a importância da transparência em pesquisas qualitativas no campo da Ciência Política e Relações Internacionais. 


Embora a abordagem qualitativa seja amplamente utilizada no Brasil, o estudo destaca que ainda há pouco debate sobre ciência aberta e práticas transparentes nessa área. A partir dessa análise, as autoras argumentam que a adoção de métodos que promovam maior clareza e reprodutibilidade é essencial para fortalecer a confiabilidade e o impacto social das pesquisas qualitativas, ampliando a confiança tanto no meio acadêmico quanto entre o público em geral.


O objetivo principal do estudo foi identificar as barreiras enfrentadas por pesquisadoras ao implementar práticas de transparência em estudos qualitativos, que, muitas vezes, seguem recomendações desenhadas para métodos quantitativos. Para isso, as autoras realizaram uma análise detalhada de mais de 5.900 artigos publicados no Brasil entre 1984 e 2020, buscando mapear a presença e a frequência de discussões sobre transparência em publicações de Ciência Política e Relações Internacionais. 


Entre os principais achados, o estudo evidencia que, embora estudos qualitativos predominem na produção acadêmica brasileira em Ciência Política, faltam diretrizes sistemáticas para orientar a transparência e a reprodutibilidade nesses trabalhos. 


As autoras observam que a adaptação de práticas já consolidadas em pesquisas quantitativas nem sempre é adequada para as especificidades dos métodos qualitativos, que frequentemente lidam com dados mais subjetivos e contextuais. Esse cenário, segundo o artigo, representa uma barreira para o desenvolvimento de uma ciência política mais rigorosa e confiável no país.


Para buscar superar esse quadro, o artigo propõe um conjunto de práticas específicas. As autoras recomendam, por exemplo, que as pesquisadoras detalhem os procedimentos de coleta de dados, incluindo os critérios de seleção de participantes e as justificativas para o uso de certas técnicas, como entrevistas ou grupos focais. Além disso, sugerem a disponibilização de documentos auxiliares, como notas de campo e roteiros de entrevista, que podem esclarecer as escolhas analíticas e metodológicas feitas ao longo do estudo. 


Outra recomendação é a criação de um “apêndice de transparência”, em que as pesquisadoras possam explicar de forma sistemática e resumida o processo de análise, contribuindo para a replicabilidade e a avaliação crítica dos resultados. 


A transparência em pesquisas qualitativas, segundo o artigo, não apenas facilita a replicabilidade e a confiança nos resultados. Contribui também para tornar a ciência mais acessível e relevante para o público


Em um contexto de crescente desconfiança pública em relação à ciência, o estudo ressalta que abrir as etapas do processo de pesquisa pode tornar os achados mais compreensíveis e aplicáveis, principalmente em áreas como as políticas públicas. Ao promover uma cultura de pesquisa responsável e inclusiva, o artigo busca contribuir para uma ciência social mais transparente e valorizada.


Perfil das Autoras


Amanda Domingos é pesquisadora de pós-doutorado na Universität Flensburg (EUF), ACCESS Project, Flensburg, Alemanha. Possui graduação, mestrado e doutorado em Ciência Política pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). 


Virginia Rocha é pesquisadora de pós-doutorado no Instituto Universitário Europeu, Departamento de Ciências Sociais e Política, Florença, Itália. Doutora em Ciência Política pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) com período sanduíche na Universidade de Oxford (2018/2019), também foi professora substituta de Ciência Política na Universidade Federal de Pernambuco (2023). Possui Mestrado (2015) e graduação (2013) em Ciência Política pela UFPE. É membro do Grupo de Pesquisa "Instituições, Políticas e Governo" (DCP/UFPE).


Palloma Marciano é Gerente Geral de Informações Estratégicas no Governo do Estado de Pernambuco, Secretaria da Assessoria Especial à Governadora e Relações Internacionais. Doutora em Ciência Política pela Universidade Federal de Pernambuco com experiência em estatística, análise de dados e metodologia.


FICHA TÉCNICA

Título: A estrada dos tijolos amarelos: Desafios e sugestões para produzir pesquisas qualitativas mais transparentes

Autores: Amanda Domingos, Virgínia Rocha e Palloma Marciano

Ano de publicação: 2024 Onde ler: Revista Brasileira de Ciência Política, Vol. 43


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