É possível estudar a política sem considerar a história? Essa é a questão central levantada por Renato Perissinotto (UFPR) em seu estudo QCA e Process Tracing: conectando Ciência Política e História, publicado na Revista Brasileira de Ciências Sociais. O autor reflete sobre como a ciência política brasileira se afastou das análises históricas, privilegiando abordagens focadas no presente, uma tendência que ele descreve como "presentismo".
O artigo busca discutir o papel do conhecimento histórico na ciência política e propõe um retorno à história, utilizando ferramentas analíticas contemporâneas para equilibrar a sensibilidade histórica com as pretensões teóricas da disciplina.
No estudo, Perissinotto argumenta que o retorno ao uso do contexto histórico na ciência política é essencial para compreender fenômenos políticos de forma mais abrangente. Ele defende que isso deve ser feito de maneira a preservar o rigor teórico da disciplina, utilizando ferramentas metodológicas como a Análise Qualitativa Comparativa (QCA) e o Rastreamento de Processos (Process Tracing - PT).
Essas abordagens permitem explorar conexões causais e sequências históricas de eventos sem abandonar as ambições de generalização teórica, estabelecendo um equilíbrio entre a análise de casos específicos e a formulação de explicações mais amplas.
Baseada na teoria dos conjuntos, a QCA permite identificar combinações de condições causais que explicam fenômenos em diferentes contextos históricos, respeitando a complexidade e a singularidade dos casos analisados. Já o PT foca na identificação de mecanismos causais ao longo do tempo, revelando como eventos e decisões interagem em sequências específicas para produzir determinados resultados. Ambas as metodologias, segundo Perissinotto, são sensíveis às nuances históricas e contribuem para a produção de explicações robustas e contextualizadas.
Os achados do estudo ressaltam que a inclusão da história na análise política oferece vantagens importantes. Primeiro, permite reconhecer que fenômenos políticos são moldados por cadeias de eventos específicos e contextuais, muitas vezes ignorados por abordagens puramente sincrônicas. Além disso, possibilita lidar com questões de longa duração, como a formação de instituições políticas e processos de democratização, temas essenciais que tendem a ser negligenciados no Brasil.
Perissinotto destaca também que, ao combinar ferramentas como QCA e PT, é possível produzir generalizações "modestas", capazes de equilibrar a complexidade do mundo social com as ambições teóricas da ciência política.
Ao concluir, Perissinotto reforça que o retorno à história não é um exercício de nostalgia acadêmica, mas uma estratégia para enriquecer a ciência política com explicações mais completas e teoricamente fundamentadas.
As ferramentas metodológicas discutidas no estudo demonstram que é possível integrar o contexto histórico sem sacrificar a busca por generalizações teóricas, contribuindo para uma compreensão mais profunda de fenômenos políticos complexos. Dessa forma, o artigo convida os pesquisadores a repensarem a relação entre história e ciência política, promovendo um diálogo que pode ampliar os horizontes da disciplina no Brasil.
Perfil do Autor
Renato Perissinotto concluiu o doutorado em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas em 1997. É professor titular da Universidade Federal do Paraná. Foi Presidente da Associação Brasileira de Ciência Política (ABCP) entre 2016-2018. É coeditor da Revista de Sociologia e Política (A1) e co-coordenador do Núcleo de Pesquisa em Sociologia Política (UFPR). Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da UFPR.
FICHA TÉCNICA
Título: QCA e Process Tracing: conectando Ciência Política e História
Autores: Renato Perissinotto
Ano de Lançamento: 2024
Disponível em: Revista Brasileira de Ciências Sociais, Volume 39